sábado, 15 de março de 2008


A fome de informação e a sede de conhecimento:
a maior vantagem das rádios de internet, dos mp3 e de toda mídia de som digital é poder ver imediatamente os créditos das músicas.
(mas nas rádios tradicionais a conexão com os ouvintes era sempre estável, não era? se não me falha a memória, como a do computador).
o que gosto nas rádios em geral é ouvir pela primeira vez alguma coisa legal e pela 3465ª vez alguma coisa amada, como um presente dos céus sonoros só pra mim (com dedicatória e tudo).
IRD
Fiquei imaginando Sylvia Plath planejando o dia seguinte ao de seu suicídio, o café da manhã das crianças deixado ao lado das camas, quanta preocupação com o futuro.

*
E o futuro, como vai?
Mapas secretos de terras a descobrir naquela mala em cima do armário,
um dia seguiremos avante e para o alto atrás de maiores novidades, mas não agora, que ainda estamos no presente.

*
Mas você não percebe?
O ar tem circulado mais leve pelos ambientes tateáveis e pelos cantos da internet.
(note bem a ausência de ácaros, você não espirra mais por quinze minutos seguidos quando entra nas salas de chat).
Acho que conseguimos nos livrar de toda aquela gente cinzenta, ranzinza, pesada, eternamente TPMzada e deprimida, dos que fazem da sua dor um manifesto por um mundo pior. (não falo dos doentes e prejudicados pela vida, falo dos incompetentes que apenas criticam, porque não sabem fazer).

*

Mas como dizia, fiquei imaginando que os diários eram escritos para serem publicados, mesmo no meio da maior dilaceração,que triste esta necessidade de se fazer ouvir.
A ilusão de controlar a percepção alheia da própria imagem, mesmo depois de tudo perder o sentido.
De algum jeito, humanos são mal programados. ou nos desviamos, não era pra vivermos assim.
Mas já que vivemos, contamos em diários. ou no blog.

*
O que eu gosto em você é que entende bem a desimportância das coisas,das realmente desimportantes, quero dizer. como palavras num blog.

*
Mas somos livres para criar, e devemos ser livres para criar.
Por falar nisso, me traga um presente inesperado,do outro lado do mundo, da Austrália, da Nova Zelândia, da Tonga da mironga do cabuletê, onde o ano nasce primeiro, da ilha de Páscoa ou de Galápagos, de um lugar bem estranho.
Pode ser um dinossaurinho daqueles, um ornitorrinco filhote. (não, isto seria esperado),então me traga uns planos para o futuro próximo, o próximo feriado, talvez umas idéias e tintas pra decorar a casa , um balanço para a mangueira, peixinhos dourados.Há o que importa de verdade, você sabe.

IRD

E essas receitas de felicidade? Mude sua vida, elas dizem. Transforme, sacuda, recomece, refaça. Fico pensando por que será que não vale gostar da vida que se tem, e querer simplesmente conservá-la assim, longe de toda mudança - se fosse possível.
Mas eu entendo. Passo horas olhando e entendendo as coisas. Visto lá do alto nada intimida, nada significa tanto, tudo pode desaparecer na goela do vulcão a qualquer momento.
Não há teoria que explique a satisfação da natureza ao avançar sobre nossas construções abusadas e retomar o que lhe pertence, aquele solzinho sorrindo vitorioso depois da lambança. As formigas têm razão, as traças têm bons motivos, os mosquitos, aranhas, e os bichos pernudos que saem dos ralos têm justificativas apropriadas, a tempestade, o vendaval, o terremoto, o mar enfurecido, o gelo e a lava sabem o que fazem. Disputa de território, justa e honesta. Que vença o melhor.
IRD